Autismo: Quais os Sinais de Alerta?
Reconhecer os primeiros sinais de autismo pode mudar a vida de uma criança. Identificar dificuldades de comunicação, padrões repetitivos ou resistência a mudanças desde cedo é essencial para garantir um acompanhamento adequado e melhorar a qualidade de vida.
Neste artigo iremos abordar os seguintes pontos:
- O que é o autismo?
- Quais os principais sinais de autismo?
- Quem faz o diagnóstico de autismo?
- Dicas para lidar com crianças autistas;
- Autismo e Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção.
Por isso, neste artigo, iremos explorar melhor este espectro de condições, analisando o que é o autismo e quais os seus principais sinais. Veremos também quem e como se faz o diagnóstico do autismo e partilharemos algumas dicas de como lidar com crianças autistas.
O que é o Autismo?
Conhecido por Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) é uma condição causada por uma alteração no desenvolvimento neurológico, manifestada na infância que afeta o funcionamento da criança. Caracteriza-se por dificuldades na comunicação e interação social associadas a padrões de comportamento, interesses e actividades restritos e repetitivos.
Esta perturbação é ainda alvo de incompreensão e estereótipos que nem sempre correspondem à realidade.
A atribuição do termo “espectro” existe devido à grande variabilidade de sintomas e da gravidade, desde as formas mais leves às mais graves.
Os Diferentes Níveis de Autismo
Atualmente o autismo pode ser classificada em três níveis, consoante o tipo de apoio requerido:
Nível 1: Necessidade de Apoio
- As dificuldades na comunicação social são evidentes sem a presença de apoio, manifestando-se em problemas a iniciar interações ou na incapacidade de manter uma conversa recíproca.
- A inflexibilidade comportamental causa interferência significativa, tornando as mudanças de foco ou atividade particularmente difíceis em um ou mais ambientes.
Nível 2: Necessidade de Apoio Substancial
- Apresentam défices acentuados na comunicação social verbal e não verbal, mesmo com apoio, o que resulta em interações limitadas e respostas sociais muito atípicas.
- A inflexibilidade, a dificuldade em lidar com a mudança ou os comportamentos restritos/repetitivos são frequentes, sendo óbvios para o observador e interferindo de forma clara numa variedade de contextos.
- Requerem um apoio substancial porque os seus défices são mais graves e limitam de modo marcado o funcionamento nas áreas da comunicação e da adaptação.
Nível 3: Necessidade de Apoio Muito Substancial
- Verificam-se défices graves na comunicação social; a interação é muito limitada e a pessoa raramente inicia ou responde a aberturas sociais dos outros.
- A inflexibilidade extrema de comportamento, a dificuldade em lidar com a mudança ou os padrões restritos/repetitivos causam uma interferência muito acentuada com o funcionamento em todas as esferas.
- Requerem um apoio muito substancial devido à gravidade dos défices, que comprometem severamente o funcionamento e exigem uma assistência contínua e intensiva.
O que Causa o Autismo?
Não existe uma causa definida para o autismo, sendo a sua etiologia complexa e multifatorial, ou seja resulta de uma combinação de fatores genéticos e fatores ambientais que interagem entre si, aumentando a vulnerabilidade do desenvolvimento cerebral.
Os estudos sugerem que os fatores genéticos são a principal base do risco para o autismo sendo que os factores ambientais podem interagir com a predisposição genética, aumentando o risco durante períodos críticos do desenvolvimento (nomeadamente durante a gestação).
Alguns fatores ambientais identificados são: a idade parental avançada, parto prematuro e baixo peso à nascença, exposição a certos medicamentos durante a gravidez, infeções maternas graves durante a gestação, condições de saúde materna pré-existentes (ex.: diabetes e obesidade), exposição a poluentes e toxinas ambientais
Casos de autismo na família ou de outras perturbações do neurodesenvolvimento aumentam o risco de desenvolver autismo.
Consulte a Página da Especialidade de Pediatria do Neurodesenvolvimento para mais informações, esclarecimento de dúvidas e marcação de consultas.
Quais os Principais Sinais de Autismo?
De um modo geral, os autistas têm dificuldades em interagir socialmente, mantendo pouco contacto visual e com dificuldade na interpretação e utilização de comunicação não verbal, com expressões faciais e gestos. Podem ter dificuldade em iniciar ou manter uma conversa, pois, muitas vezes, não compreendem nuances sociais como o humor e o sarcasmo.
Pessoas com autismo apresentam comportamentos repetitivos e podem ficar facilmente perturbados pela dificuldade em adaptar-se a mudanças na rotina. É comum desenvolverem interesses excessivos e restritos sobre determinados temas. Alguns autistas podem apresentar qualidades extraordinárias como uma memória extremamente detalhada e proficiência com números, música ou arte.
O autismo manifesta-se, regra geral, nos primeiros três anos de vida. Mais específicamente, entre os 15 meses e os três anos, altura em que normalmente se observa uma grande evolução nas competências comunicativas das crianças.
Vejamos, agora, alguns sinais de alarme específicos para bebés e crianças.
Sintomas em Bebés
- Não responder pelo nome e não olhar nos olhos, mesmo durante a amamentação;
- Não reagir a sons, preocupando os pais no sentido de pensarem que o bebé é surdo;
- Não emitir sons;
- Demonstrar indiferença pelas pessoas e ambiente, mesmo em casa;
- Ausência de expressões faciais, incluindo o sorriso;
- Chorar sem motivo durante muito tempo, ou nunca chorar;
- Atraso na comunicação, mostrando dificuldade em balbuciar e falar palavras básicas;
- Repetição de movimentos físicos como agitar as mãos, bater palmas, baloiçar e girar;
- Hiperfoco em objetos brilhantes ou coisas que giram, brinquedos de luz e som.
- Ausência da brincadeira de faz de conta e da imitação das atividades da vida diária.
Sintomas em Crianças
Nas crianças entre os dois e os cinco anos alguns dos principais sinais incluem o não gesticular o “adeus”, não falar ou regredirem na fala, repetir sons em demasia e, de um modo geral, não saber comunicar, discursando sobre um tema sem parar, não prestando atenção a quem está a ouvir.
A partir dos seis anos e até a adolescência, nos autistas, verifica-se que a incapacidade de expressão se mantém, podendo eles dar respostas sem nexo, falar de forma monocórdica, não entender piadas ou sarcasmo. Também mostram dificuldade em compreender gestos, linguagem corporal e tom de voz.
De forma geral, crianças com autismo também podem demonstrar:
- Contacto visual reduzido ao interagir com outros;
- Dificuldade em expressar ideias e sentimentos, muitas vezes interpretada como indiferença;
- Aborrecimento e frustração provocada por mudanças na rotina, mesmo que sejam pequenas como comprar um alimento preferido de outra marca ou fazer um trajeto diferente;
- Comportamentos repetitivos, como abanar as mãos, estalar os dedos e andar nas pontas dos pés;
- Ter mais interesse (muitas vezes excessivo) em objetos do que em pessoas, preferindo brincar sozinhas;
- Ser muito sensíveis a cheiros, sons, luzes ou contacto físico, podendo estes despertar interesse ou causar reações adversas.
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Quem Faz o Diagnóstico de Autismo?
Algumas crianças possuem sintomas isolados que não correspondem ao diagnóstico do autismo, pelo que é sempre fundamental recorrer a ajuda profissional para confirmar o seu significado.
Em caso de suspeita de autismo, deve consultar-se um médico, nomeadamente pediatra do neurodesenvolvimento, neurologista pediátrico ou pedopsiquiatra, para que possa confirmar o diagnóstico e dar início ao tratamento mais adequado de acordo com as necessidades da criança.
Para uma avaliação mais adequada, o médico deve ter em conta o comportamento da criança, bem como os relatos dos pais e outros profissionais que a acompanhem, como professores.
O autismo é uma condição permanente, embora as suas manifestações sejam flutuantes. Se o diagnóstico for atempado e a intervenção se iniciar precocemente, pode ajudar a melhorar a qualidade de vida da criança, atenuando alguns dos sintomas.
Dependo das necessidades individuais da criança, o tratamento pode incluir:
- Sessões de terapia da fala, para melhorar a comunicação;
- Terapia ocupacional, para facilitar as atividades do quotidiano, promovendo independência e bem-estar;
- Não existe nenhuma medicação comprovada que atue diretamente sobre as características nucleares do autismo. Desta forma, a utilização de fármacos só é recomendada para tratar sintomas específicos e comorbilidades associadas, quando estes são graves e interferem significativamente na qualidade de vida e na intervenção terapêutica. A medicação pode ser utilizada para gerir problemas como agressividade, irritabilidade, hiperatividade, ansiedade ou perturbações do sono, sendo sempre prescrita por um médico especialista e ajustada caso a caso, em conjunto com as terapias.
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Qual a Melhor Forma de Lidar com Crianças Autistas?
Para além do trabalho desenvolvido com a criança ao nível das terapias, existem orientações que todas as pessoas que lidam diariamente com a criança autista devem considerar. Estas dicas para lidar com crianças autistas são gerais e devem ser adaptadas às suas necessidades e capacidades particulares.
Sendo assim, é muito importante:
- Compreender a crise autista. É imperativo saber quais são as caraterísticas da crise e de que forma ela se despoleta. As crianças com autismo têm dificuldades em expressar as suas necessidades e sentimentos e essa frustração pode levar a uma crise. É importante compreender que a crise autista é uma forma de comunicação e não um capricho ou uma birra – saiba mais sobre como lidar com birras constantes, neste artigo.
- Saber identificar os gatilhos. Estes variam consoante a criança, mas podem incluir mudanças na rotina, sobrecargas sensoriais, cansaço, ansiedade ou até fome. Ao identificar os padrões que antecedem uma crise, é possível antecipá-la e minimizá-la.
- Trabalhar estratégias de regulação emocional. Quando a criança estiver calma, ensine-lhe técnicas de respiração profunda, apresente-lhe objetos sensoriais usados para acalmar e ajude-a a criar um “espaço seguro” onde se possa refugiar. Assim, a criança terá também ferramentas que poderá aplicar durante as crises.
- Manter a paciência e a calma. Os pais e principais cuidadores devem permanecer sempre calmos durante uma crise. Nesta situação, a criança está a passar por dificuldades emocionais e esta é a sua forma de o comunicar, pelo que reagir com raiva e frustração poderá intensificar uma reação negativa. Mantenha a paciência e ofereça apoio emocional, principalmente nestes momentos.
Pode também colocar outras dicas em prática, dependendo do seu contexto e situação, tais como:
- Encorajar o contacto visual direto, colocando-se ao nível da criança;
- Promover interação com outros membros da família, através da rotina, jogos lúdicos ou brincadeiras;
- Manter as expressões faciais e gestos simples;
- Dar à criança tempo para compreender a informação que lhe foi dada e formular uma resposta;
- Simplificar o discurso;
- Incentivar a criança a ser independente (deixar que se vista, sirva, coma e beba sozinha);
- Envolver a criança nas atividades diárias da família, levando-a às compras e deixando-a ajudar a preparar uma refeição, por exemplo;
- Ajudar a nomear as emoções no momento em que as sente;
- Ser um bom modelo para criança.
Autismo e PHDA
O autismo e a perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA) são transtornos diferentes que partilham algumas caraterísticas, nomeadamente dificuldades de socialização e concentração. No entanto, possuem também diferenças significativas.
Ao nível das interações sociais, as dificuldades da criança com PHDA resultam normalmente da impulsividade ou desatenção, embora a criança possua o desejo de socializar. Por outro lado, no caso da criança com autismo as dificuldades advêm da dificuldade em compreender normas e sinais sociais, tendo esta também desinteresse em interações sociais.
Quanto aos comportamentos repetitivos, podemos afirmar que no caso do PHDA, as rotinas são difíceis de cumprir. Para além disso, a repetição de comportamentos e interesses fixos não são uma aspeto central deste transtorno. Em contrapartida, as crianças com autismo são
muitas vezes inseparáveis da sua rotina, ficando transtornados quando se deparam com qualquer alteração.
Relativamente à capacidade de atenção, é comum encontrarmos tanto crianças com PHDA como crianças com autismo distraídas e sem prestar atenção. A diferença é que, para as crianças com PHDA, essa distração aplica-se a tudo. Enquanto que, para a criança com autismo, a atenção depende muito do assunto em questão.
É bastante comum ambos os transtornos coexistirem. Segundo um estudo clínico desenvolvido pelo Centro Hospitalar Intercomunal de Créteil, em França, entre 50 e 70% das pessoas com formas mais graves de autismo têm também PHDA. Para estas crianças, e para os pais e educadores, o dia a dia poderá ser um pouco mais desafiante, pois verifica-se:
- Gravidade dos sintomas. Sintomas típicos da PHDA como a impulsividade e desatenção podem complicar as dificuldades de comunicação social associadas ao autismo, havendo por isso necessidade de reforçar as estratégias para lidar com os problemas do dia a dia.
- Tratamentos mais complexos. Cada uma das doenças tem necessidades terapêuticas próprias e a sua coexistência requer uma abordagem de tratamento adaptada e mais abrangente. Por exemplo, para gerir a PHDA pode utilizar-se medicação, enquanto que o autismo pode exigir terapia da fala ou ocupacional.
- Maior impacto na vida diária. A desatenção e impulsividade associadas ao PHDA podem impactar o desempenho escolar, enquanto que os desafios de interação social associados ao autismo podem complicar o estabelecimento de relações sociais.
Autismo: Pontos Essenciais a Reter
Cada criança, independentemente de ser ou não neurodivergente, tem a sua própria forma de aprender, sentir e interagir, e essa singularidade que deve ser valorizada. No caso das crianças com autismo, o diagnóstico atempado e o acesso a terapias adequadas são fundamentais, mas tão importante quanto isso é a compreensão, paciência e empatia no dia a dia. Só assim estas crianças vão conseguir desenvolver-se de forma saudável e harmoniosa, e tornar-se em adultos realizados e capazes de contribuir para a sociedade.
Ao informarmo-nos e adotarmos estratégias adequadas, ajudamos não só as crianças autistas a desenvolverem as suas capacidades, mas também a sociedade a tornar-se mais justa e inclusiva.
Afinal, o autismo não define quem a criança é – é apenas uma parte dela, que merece ser reconhecida, respeitada e acompanhada com cuidado.
Com Dúvidas? Esclareça-as com as Nossas Pediatras do Neurodesenvolvimento
Na Vaz Nobre Clínica, contamos com duas experientes pediatras do neurodesenvolvimento, as doutoras Carolina Guimarães e Mónica Pinto, ambas especialistas no diagnóstico e acompanhamento de crianças com condições específicas do neurodesenvolvimento, como a PHDA e o autismo.
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